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sexta-feira, 18 de novembro de 2011

Novos Baianos de todos os tempos


Na madrugada do dia 18 de novembro de 2011, Jô Soares entrevistou Moraes Moreira, Tom Zé e o cineasta Henrique Dantas, diretor do documentário “Filhos de João, O Admirável Mundo Novo Baiano”, que demorou 11 anos para ser finalizado.

Aí vocês podem estranhar e perguntar:  - Mas o que o Tom Zé tem a ver com o grupo Novos Baianos, formado por Moraes Moreira, Galvão (letrista e líder), Paulinho Boca de Cantor, Baby Consuelo ( hoje Baby do Brasil) e meia dezena de instrumentistas ( Dadi no baixo, Jorginho – irmão de Pepeu – na batera, entre outros, esse grupo instrumental dentro do grupo chegou a chamar-se A Cor do Som)?


Tudo, na verdade. Tom Zé, conforme o filme revela e a entrevista resvala, foi uma verdadeira ponte (e Moraes confirma na conversa) entre os baianos já estabelecidos no Sudeste (a turma do Tropicalismo) e os Novos Baianos. Primeiro porque era o artista que mais transitava entre Rio/São Paulo e Bahia na época, levando novidades do movimento e dos festivais. E também porque em alguns momentos chaves estava na hora certa/lugar certo: foi vizinho de Galvão em 1966, deu aulas (gratuitas) para Moraes Moreira, na Bahia, gentileza feita por descobrir ali um compositor formado e criativo, que segundo suas palavras “revirou do avesso tudo e em três aulas acabou o que tinha pra passar e virou professor”.
Tom Zé continuou dando força pra eles em São Paulo (que sempre foi sua praia no Sudeste), tornando-se um elo inquebrável entre a geração anterior, que virou do avesso a MPB com o tropicalismo, e a nova, da qual faziam parte os Novos Baianos. O grupo prosseguiu nas experimentações e misturas de gêneros. Acabou unindo sambistas e roqueiros, coisa improvável antes,  foi um dos expoentes da contracultura nos anos 70 e teve alguns encontros míticos com o mestre de todos: João Gilberto.


Em 1970, Moraes conta que ele e Pepeu “roubaram” vários acordes do conterrâneo bossanovista . Paralelamente, Tom Zé desconstruía o samba e experimentava cada vez mais nos discos, o que acabou afastando-o da mídia tradicional e levando-o a um ostracismo involuntário nos anos 80, até ser “descoberto por David Byrne”, em 1989, sem querer (Byrne gostou do nome do seu disco “Estudando o Samba”), entrando em coletânea americana que ressuscitou sua carreira (anos antes, Tom Zé quase virou frentista de posto).
Com certeza, o diretor Henrique Dantas, quando focou em João Gilberto como o “pai” musical dos baianos pós-bossa (e com razão), talvez não adivinhasse tantas coincidências entre Tom Zé e os Novos Baianos. Inclusive na entrevista com Jô, cogitou-se a idéia desse novo foco para um projeto futuro.



Tom Zé, dá pano pra manga, com certeza. Mas antes disso ouve um certo João, o João do título do filme, que revolucionou a cabeça de jovens no Brasil todo (Chico Buarque, Edu Lobo, Geraldo Vandré, entre tantos outros) e toda uma geração posterior de baianos (Caetano, Gil, Gal, Bethânia, Tom Zé, Capinam). Todos novos baianos como os Novos Baianos, vistos do pioneiro banquinho deste João, que coincidentemente, para unir todos os elos mesmo, foi amigo de mocidade de Galvão, em Juazeiro. João Gilberto, mítico, gênio, mestre de todos esses citados, começou tudo...
Pensem que João Gilberto já vinha de outras paragens musicais, dos anos 40, 50. Tocou com músicos "clássicos" daquelas épocas e foi a luz musical de diversos artistas contemporâneos - até para Roberto Carlos!


João conviveu com gerações anteriores à Bossa Nova, com os Novos Baianos, com baianos e estrangeiros, com Tom Jobim e com as gerações posteriores a todos eles.

Por isto, João é o elo e o caminho a ser seguido. Foi assim em um passado bem distante, durante a Bossa Nova, nos tempos dos Novos Baianos e é ainda hoje para essa nova geração. O tempo não para. Nem João!

Texto: Rick Berlitz e Marcos "Malu" Massolini
Produção/Edição: Léo Engelmann

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