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sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

Landell de Moura, 150

Imagine-se na seguinte situação: você levanta, toma café e vai pro computador. Liga a Internet e lê, num site de notícias, que um padre gaúcho fez na noite anterior a transmissão da voz entre dois pontos, utilizando a luz.

Uma engenhoca eletro-mecânica usa a vibração do ar, produzida pelo som da voz, atingida em um diafragma de quartzo que, vibrando, faz com que a luz se movimente e, através de uma espécie de lupa, aumenta o raio de luz a ponto de ser atingida a 7 quilômetros de distância, fazendo o mecanismo inverso: transforma a luz em som.



O padre gaúcho Roberto Landell de Moura realizou esse trabalho. Só que em 1894. Não havia internet. Não havia televisão. Não havia rádio. Não havia telégrafo sem fio.

Aliás, rádio e telégrafo sem fio andam lado a lado nessa história centenária. Tudo porque existe uma disputa acirrada entre Landell de Moura e o italiano Guglielmo Marconi pela invenção e patente do rádio.

Os livros mais antigos de história do Ensino Médio colocam o italiano à frente da criação do telégrafo sem fio, o que é verdade. Marconi criou a transmissão sem fio do telégrafo usando sinais elétricos de pontos e traços, o código morse. A invenção de transmitir telégrafo através de ondas eletromagnéticas aconteceu em 1896. O italiano ganhou o Prêmio Nobel de Física em 1909 por causa disso.

Landell patenteou o telégrafo sem fio em 22 de novembro de 1904, nos Estados Unidos:


Porém, a patente de Marconi, registrada como Transmissor Elétrico de Impulsos, foi aceita em 2 de julho de 1897:


Oras. Dois anos antes da invenção, portanto, do telégrafo sem fio, Roberto Landell de Moura havia feito a transmissão de voz.

E esse é o tendão de Aquiles entre os dois. A História Contemporânea cita Marconi sendo o criador do Rádio. Na questão eletrônica, sim, Mas na questão da natureza de conteúdo, Landell de Moura mata a cobra, pois transmitiu, sem fios, e a uma distância muito maior que a experiência de Marconi, voz humana.

Pesquisei num livro da minha estante, "Estação Terra - Comunicação no tempo e no espaço", de Dora Incontri, e há nele quase duas páginas citando o invento de Marconi. E apenas uma linha sobre a "disputa" com o padre gaúcho.

Mas há uma semelhança aí. Marconi inventou o telégrafo sem fio em 1896 e não conseguiu entusiasmar os italianos. Foi para a Inglaterra e, em 1899, conseguiu transmitir o código morse de um lado a outro do Canal da Mancha, 33 Km de distância.

Landell de Moura não causou o interesse no Brasil, e foi aos Estados Unidos fazer a mesma experiência por lá, onde conseguiu destaque. Voltou ao Brasil em 1909 com a concepção de Rádio já formada mas perdeu a patente porque Marconi havia feito quando da invenção do telégrafo sem fio, ou melhor, do rádio-telégrafo. Ironicamente, em 1922, a primeira transmissão de Rádio no Brasil foi feita com equipamentos norte-americanos...

Ou seja, historicamente e legalmente, a "criação" do Rádio ficou com Guglielmo Marconi. Mas alguns estudos estão conseguindo provar o contrário, pelo menos na questão histórica. É, por exemplo, o que bate na tecla o jornalista Hamilton Almeida, em seu livro "Padre Landell de Moura, um herói sem glória". Segundo Almeida, há alguns documentos escritos pelo próprio padre, que provam a existência da experiência. 

E para mostrar que a transmissão funcionou, em duas oportunidades - 1984 e 2003 - foram montadas  no Brasil réplicas das que foram usadas por Landell e vozes foram transmitidas, com suscesso.
Há uma página na Internet, oficial, defendendo a patente do Rádio a Landell de Moura. Lá, o internauta tem acesso a videos, áudios e documentos que ajudam a provar o pioneirismo.


E, em comemoração aos 150 anos de nascimento de Roberto Landell de Moura, os Correios lançaram hoje um selo, celebrando um Herói Nacional esquecido pelo tempo, e ignorado pela História - inclusive a do Brasil.

Pra quem quiser conhecer um pouquinho mais sobre outras várias atrocidades históricas que aconteceram - e que continuam acontecendo - no Brasil, sugiro a leitura do livro de Leandro Narloch, "Guia politicamente incorreto do Brasil".

2 comentários:

  1. Olá.
    Parabéns pelo artigo.
    Incluí um link na HPage que mantenho sobre ele.
    Veja em: http://www.landelldemoura.com.br
    Um abraço e tudo de bom.
    Rony (www.ps7ab.com.br)

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  2. Rony, obrigado pelos elogios.

    Encontramos mais algumas reportagens, citações e recortes que dão mais pano pra manga nesse assunto.

    Em breve estará aqui de novo.

    Abraços sonoros.

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