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quinta-feira, 20 de outubro de 2011

Slowhand

Rick Berlitz

Créditos da matéria:
Foto 1: divulgação/ Foto 2: AP/ Fotos 3 e 4: Rick Berlitz
Composição, pesquisa, reportagem e  texto: Rick Berlitz
Arranjos: Marcos Massolini e Léo Engelmann

Alguns shows memoráveis e inesquecíveis são fundamentais. Deve fazer parte da formação sócio-cultural-educacional de qualquer cidadão que queira ampliar seus horizontes, muito ‘além do jardim’.
Através da música, temos o privilégio de conhecer a obra e a vida de ícones que, cada um a seu tempo, contribuíram para mostrar costumes,vidas e artes de acordo com sua época. A dimensão disto vai de Beethoven, Mozart, Bach a Beatles, Stones, Presley, Tom Jobim, Pixinguinha.
Qualquer um destes acima citados (e alguns outros mais) são e serão lembrados por muito tempo. Clássicos, suas obras não estão necessariamente restritas a admirações regionais.
Cada um de nós, a seu modo, estilo de vida e gosto pessoal poderá acrescentar nomes a esta lista. Gosto não se discute. Pode-se colocar em discussão, sim, a obra, a técnica, o conhecimento ou o ‘feeling’. E isto vale para qualquer expressão artística.
Respeitar a individualidade e a disposição de cada artista ao se lançar perante o público é fundamental. Mas do ‘outro lado do balcão’ existem os amantes da boa arte, os críticos e os fãs.
Excetos os amantes da boa arte, os dois últimos são por vezes chatos, às vezes bajuladores e cegos (a cegueira faz parte de toda e qualquer paixão). Mas críticos e fãs também podem contribuir para melhor elucidar o enigma da obra, da arte.
Hipoteticamente, uma dupla formada por um crítico e um pesquisador de arte, juntos,seria essencial não só para quem estuda História da Arte, mas para os que amam a arte como expressão humana e social.


Conheço um tanto da obra de Eric Clapton. Assim como fiz com Pixinguinha e Tom Jobim, com Clapton não foi diferente. Dele, colecionei ao longo dos anos livros, biografias, toda a discografia e, mais recentemente, vídeos e matérias publicadas nos principais meios de comunicação, em diversas línguas – não, eu não leio tudo no original, até porque meu vocabulário hebraico e catalão são péssimos.
Vale lembrar que Clapton tem essa dimensão mundial. É apreciado em todo lugar onde a busca pela boa arte – neste caso a música – é incansável. Onde se aprecia a obra, a técnica, o conhecimento e o feeling do músico britânico. Onde se reconhece sua contribuição para a música nos últimos 50 anos.

Entrada para o show de Eric Clapton em São Paulo (12/10/2011)

No show em São Paulo, percebi um Eric Clapton mais acanhado musicalmente. Pode ter aí um componente pessoal, que não está diretamente ligado ao fato de manter-se longe do álcool e das drogas há muitos anos. Aliás, neste quesito, vale como objeto de admiração. No melhor estilo vence o que te vencer, Clapton saiu verdadeiramente vencedor.
Badge, música em parceria com o amigo e ex-Beatle George Harrison, continua sendo um dos pontos altos nos shows de Clapton há anos (desde Goodbye, 1969). Outras, mais conhecidas do público geral, também acabam despertando muito atenção e emoção, com Wonderful Tonight. Old Love cabe bem aos ouvidos mais atentos ou aos mais familiarizados, sobretudo após Unplugged (1992). E por aí vai o setlist do Show em São Paulo.
Layla? Tocou sentado com a guitarra sobre as pernas. Não foi, definitivamente, a melhor performance e execução da música mais conhecida da grande massa (em torno de 45 mil pessoas), que foi cultuar o Deus da Guitarra, no Estádio do Morumbi.
Layla, composta, criada e idealizada por Clapton, e até baseada em um solo de um velho blues, recebeu, após terminada, a “conclusão” (ou Coda) feita pelo genial baterista Jim Gordon; mesmo não sendo seu instrumento, deu o toque final ao piano.
É uma das melhores músicas do compositor, guitarrista e cantor inglês, que a lançou em 1970, no álbum Layla and Other Assorted Love Songs. Está entre as 30 melhores músicas de todos os tempos – segundo o público e a revista Rolling Stone. Em 1983, Clapton recebeu o Grammy de "Melhor Canção de Rock" pela versão acústica da música.
Em São Paulo, Clapton colocou Layla em outro patamar. Apesar de toda a aura para deixar qualquer um de joelhos, nesta apresentação, Layla foi apresentada longe do que identifico no Blues: alma.
Mesmo com este deslize, Eric Clapton ainda é um rock-bluesman genial, ícone que transcorreu várias épocas, que participou de todos os mais dignos momentos da música do Século XX (e ainda está aqui em pleno Século XXI), esteve e compôs com Beatles e Stones. É um Deus da Guitarra, um Slowhand, um ícone. Ou seja, continua perpetuando a visão do público, da crítica e de Jimi Hendrix. 
Em 2011, o Brasil pode ver mais uma vez Eric Clapton em boa atividade artística. Como não sou surdo, ouvi diversos comentários antes, durante e após o show, todos mais ou menos idênticos (não literal): ‘vale a pena, até porque não sei se ele volta’. Esperamos que sim!
Palco e platéia: show de Eric Clapton em São Paulo (12/10/2011)

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